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Que alimentos devo evitar, enquanto estou a amamentar?

Uma das dúvidas mais frequentes que as mamãs trazem para as minhas consultas é: que alimentos devo evitar, enquanto estou a amamentar?
Os mitos, em redor deste assunto, constituem uma barreira considerável para o sucesso da amamentação. Apesar de existirem algumas recomendações alimentares para mulheres a amamentar, a evidência científica da necessidade de restrições específicas durante este período é muito limitada.
Como tal, vamos rever e analisar cada um dos alimentos que levantam maiores suspeitas:

– Alimentos que contêm cafeína (ex: café, chá preto ou verde, refrigerantes de cola, chocolate, bebidas energéticas, …)

Algumas recém-mamãs, embora estejam a amamentar, recorrem a bebidas com cafeína para combaterem o cansaço característico desta altura.

A quantidade de cafeína que “passa” para o leite materno é em geral menos de 1% da quantidade que é consumida pela mãe. Deste modo, quantidades modestas de cafeína não parecem afectar negativamente o bebé. Contudo, quantidades excessivas de cafeína por parte da mãe, podem levar a que esta se acumule no sistema do bebé, o que poderá causar agitação e distúrbios no seu sono. Limitar o aporte de café é por isso algo que deve ter em consideração!

O consumo de chá preto ou verde deve também ser moderado e os refrigerantes pela sua composição geral e, não só no que à cafeína concerne, devem ser evitados.

A teobromina, presente no chocolate é similar à cafeína, contudo há muito menos teobromina no chocolate do que cafeína no café, logo o consumo moderado de chocolate não aumenta significativamente os níveis de teobromina ou cafeína no bebé.

– Comida picante e alimentos considerados muito “fortes” como alho e cebola

 Muitas mães tentam evitar alho, cebola e comida picante porque acreditam que esta pode causar cólicas, gases, diarreia, prurido e irritação na pele do bebé amamentado. Apesar dos alimentos como o alho, poderem alterar o cheiro e o sabor do leite materno, isso geralmente não faz com que as crianças o rejeitem. Dois estudos mostraram que os bebés cujas mães comeram extrato de alho tenderam a mamar durante mais tempo e parecem preferir uma maior variedade de sabores no leite materno, o que pode facilitar a diversificação alimentar. Além disso, os bebés raramente reagem a um alimento que as mães comem.

– Alimentos potencialmente causadores de cólicas e gases, tais como couve, couve-flor, brócolos ou leguminosas

Comer esses alimentos pode causar gás no intestino da mãe, devido à fermentação da fibra alimentar por parte de algumas bactérias intestinais. No entanto, nem o gás, nem a fibra passam para o leite materno. Logo, não há nenhuma razão que justifique a sua eliminação da dieta maternal.

– Alimentos ácidos como frutas cítricas, abacaxis e tomates

 Estes alimentos não afectam o leite materno, pois não alteram o pH do plasma materno. Pode e deve continuar a consumi-los.

– Alimentos crus tais como peixes crus (sashimi), marisco, ostras e leite ou produtos lácteos não pasteurizados 

Qualquer alimento cru pode ser uma fonte de uma toxinfecção alimentar. Contudo, o consumo de alimentos crus por mães lactantes não representa um problema sério para o bebé. Em geral, a intoxicação alimentar materna não resulta em infecção em lactentes, excepto em casos raros de septicemia, onde as bactérias podem atingir o leite materno 17). Mesmo em casos de septicemia severa, não é necessário interromper a amamentação, se a mãe for tratada com antibióticos apropriados.

Alimentos potencialmente alergénicos

Reacções às proteínas do leite de vaca por bebés em amamentação exclusiva são raras (0,5%) e as reacções adversas não são severas. Porém se há suspeita de uma alergia às proteínas do leite de vaca, deve-se retirar os produtos lácteos da alimentação da mãe, durante um período de tempo limitado para que se possa proceder ao correcto diagnóstico. Em lactentes que têm uma história familiar de alergias, a amamentação exclusiva em combinação com restrições dietéticas maternas pode ser benéfica. Em alguns bebés com eczema atópico, uma dieta de eliminação materna de leite de vaca, ovo e outros imunogénios (trigo, frutos oleaginosos, etc.) poderá ser útil.

No entanto, no momento atual, com a excepção do quadro cliníco de eczema atópico, não foi comprovado que uma dieta de eliminação materna durante a amamentação possa prevenir qualquer doença alérgica em lactentes saudáveis. A evidência sugerindo que uma dieta de eliminação durante a amamentação diminui o desenvolvimento de alergias é fraca, enquanto que o potencial de desnutrição materna é preocupante. Portanto, a recomendação de que as mães que amamentam devem evitar alimentos específicos para proteger seus filhos de doenças alérgicas é uma precaução desnecessária.

Assim, a resposta à questão que vocês tantas vezes me fazem é simples: Durante a amamentação, as mamãs devem ter uma alimentação completa, equilibrada e variada e não existem alimentos proibidos!

A única excepção são as bebidas alcoólicas. Tirando isso, podem comer tudo!

Resta só lembrar que, no caso de surgir alguma reação adversa no bebé (borbulhinhas no corpo ou algum tipo de desconforto), como consequência do consumo de algum alimento por parte da mãe, o melhor a fazer é retirar esse alimento da dieta da mamã durante uns dias. Quando o bebé voltar a ficar bem, a mãe deve voltar a comer o alimento em causa para avaliar se surge a mesma reação. Se isso acontecer, o alimento não deve ser consumido novamente.

Resta reforçar que os poucos alimentos, onde se observaram e registaram reacções, diferiram muito de bebé para bebé, por isso não é razoável recomendar que todas as mães que amamentam evitem certos e os mesmos alimentos.

Estes são casos específicos e como tal não há necessidade de estabelecer recomendações gerais para mães a amamentar, com base em situações particulares. Cada bebé é único e deve ser visto como tal!

(Foto é da minha querida Joana da The Love Project – Fotografia)

  1. Goun Jeong, MD, Sung Won Park, MD. Maternal food restrictions during breastfeeding. Korean J Pediatr. 2017 Mar; 60(3): 70–76.
  2. Lawrence RA, Lawrence RM. Breastfeeding: a guide for the medical profession. Philadelphia (PA): Mosby/Elsevier; 2011.
  3. Korea Food and Drug Administration. Practice guide of nutritional eating habits for lactating women [Internet] Cheongju: Korea Food and Drug Administration; 2012. [cited 2015 Aug 23]. Available from:http://www.mfds.go.kr/index.do?mid=700&seq=13394&cmd=v.
  4. American College of Obstetricians and Gynecologists; American Academy of Pediatrics, editor.Breastfeeding handbook for physicians. Elk Grove Village: American Academy of Pediatrics; 2006.
  5. Berlin CM, Jr, Denson HM, Daniel CH, Ward RM. Disposition of dietary caffeine in milk, saliva, and plasma of lactating women. Pediatrics. 1984;73:59–63. [PubMed]
  6. Berlin CM, Daniel CH. Excretion of theobromine in human milk and saliva. Pediatr Res.1981;15:492.
  7. Mennella JA, Beauchamp GK. Maternal diet alters the sensory qualities of human milk and the nursling’s behavior. Pediatrics. 1991;88:737–744. [PubMed]
  8. Kramer MS, Kakuma R. Maternal dietary antigen avoidance during pregnancy or lactation, or both, for preventing or treating atopic disease in the child. Cochrane Database Syst Rev. 2012;(9):CD000133.[PubMed]

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4 Comments

  • Janaína ayres diz:

    Ola,boa noite !
    Dr Sandra Santos estou com um BB cm 17 dias e gostaria de saber se mesmo amamentando posso ter a refeição que tinha antes lógico que sem consumir bebida alcoólica,refrigerante e café,pq tenho medo de da cólicas no bb

    • Sandra Santos diz:

      Olá Janaína! Sim, se tiver uma alimentação saudável pode mantê-la, sem fazer qualquer restrição (tirando aquelas excepções que mencionou). Beijinhos, Sandra

  • Joana Ferreira diz:

    Olá Sandra. Antes de mais quero dar-lhe os parabéns pelo blog, pela partilha de tão bom material e, principalmente, pela Francisca linda que tem.
    Relativamente ao assunto deste post, as restrições que a pediatra do meu filho me “impôs” foram o álcool, o marisco e as conservas não pasteurizadas.
    O meu Artur tem 17 meses (feitos hoje ) e ainda armamento, a minha questão é a seguinte, será que já posso comer marisco? Vivo bem sem ele mas…
    Tendo em conta o que escreveu, parece que sim mas tenho sempre aquele medo. E, o pior, é que nem percebo se a restrição do marisco se deve ao seu potencial alérgico ou se a perigo de intoxicação alimentar.
    Obrigada, beijinhos e boas festas.

    • Sandra Santos diz:

      Olá Joana! Sim, pode comer marisco!! A única restrição é mesmo o álcool. De resto, não faz sentido privar-se de nada. beijinhos, Sandra

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